Estrela d'alva,
Olha a luz do dia.
Estrela d'alva,
Olha a luz do sol.
Estrela d'alva,
Não me deixe sem meu guia.
Estrela d'alva,
Não me deixe só.
Caixa-de-guerra, maracá, porta-bandeira,
Rainha negra batendo palma de mão...
Baque-virado fez tremer o chão do mundo,
Bomo-profundo ressoou trovão...
Ladeira acima os cortejos vão seguindo,
Brasil afora vai cantando a procissão...
Nos estandartes os emblemas do divino,
Olhos na altura e os pés no chão.
Num mar de gente os andores navegando
Santos de barro e resplendores de papel,
Ramos e palmas verdejando a rua inteira,
E a padroeira a flutuar no céu.
Anjos-meninos de olhos pretos e asas brancas,
E a banda toca um hino triste e triunfal,
Cristãos e mouros cruzam lanças na avenida
E se ajoelham frente à catedral.
Cacos de vidro são rubis e diamantes,
E cada crente nesse instante é um jesus,
Cada promessa conta o drama de uma vida,
E cada vida se tranforma em luz.
Blocos desfilam seus calungas e brincantes,
Bichos gigantes, jaraguá, cobra-coral...
Reis maltrapilhos vão cantando ave maria,
E a romaria puxa o carnaval.