Favela
Dia era gelado, cena triste era aquela
O trator era mais largo, qua a largura da viela
Ouvi que alguém gritou, meu Deus, até a capela
Corriam mães com os filhos, enrolados na flanelas
E a lei com voz ativa, dava ordem coletiva
De despejo da favela
Trator na primeira praça, derrubou o barracão
E de cabeça pra baixo um bercinho e um fogão
Uma cadeira de rodas, um chocalho e um bastão
Era o espolho da heroína da criança e do ansião
Mais pra frente eu vi que tinha a imagem da santinha
Que traz a casa na mão
Favela, favela...
Quantos sonhos dentro dela
Favela, favela...
Quantos sonhos dentro dela
Junto á estátua ainda vi amarrada um bilhetinho
"Ó minha santinha Efigênia, eu vos peço com carinho
Que logo a minha família mude pro nosso cantinho
Nem que seja como aqui um lugar de bons vizinhos
Assinado Sonia Reis do barraco 36
Lado esquerdo do Dilzinho"
Conforme o trator passava derrubando o favelão
No peito de dona Sonia, parava o coração
Deus olhando seu pedido E o barraco ali no chão
Lhe deu uma casa igual a que a santa traz na mão
E atendendo o bilhetinho Deus lhe deu como vizinho
Os anjos da imensidão
Favela, favela...
Quantos sonhos dentro dela
Favela, favela...
Quantos sonhos dentro dela