Exército Brasileiro Lyrics
Lembrai-vos Da Guerra Lyrics
Imensa formação de brancas cruzes,
Desfile mortuário de fantasmas,
Exótico mercado de miasmas,
Exposição de ossadas e de urzes
Calado e mudo queda-se o canhão,
Apenas trevas cobrem a amplidão,
Que outrora foi um campo batalha
Calada e muda queda-se a metralha,
É morta na garganta a voz do obus,
O sabre traiçoeiro não reluz
Dilacerando, ensangüentado a terra
A paz voltou, é terminada a guerra.
Os heróis tombaram das alturas,
Os covardes e os bravos olvidados,
Seus feitos aos livros relegados,
Nada mais resta, apenas sepulturas.
E eu? Quem sou? Perguntam eu quem sou?
Pois bem, eu lhes direi: sou um soldado,
Igual a qualquer outro
que avançou, combateu, foi derrubado.
Cruzes iguais
Terrivelmente iguais
Exército que cresce mais e mais,
No festim diabólico da morte.
Aqui jaz o covarde. Ali o forte.
Aqui dorme um estranho. Ali estou eu
Mas ninguém sabe como ele morreu
Não se lembram do campo de batalha,
Nunca ouviram o riso da metralha
Não sentiram tremer o corpo inteiro
Ante o rugido brutal de um morteiro
Não viram a cor dos olhos do inimigo.
Não sentiram o medo do perigo,
Que vos faz desejar a morte breve.
Nunca sonharam. Nunca, nem de leve.
Mas
Nem todos se esqueceram do soldado
Que está longe, bem longe sepultado
Mamãe, minha boa mãe, se tu soubesses
Que tua imagem adornei com flores,
Que tuas flores foram minhas preces,
Preces colhidas no jardim das dores
Minha querida mãe, se te contasse
O medo que senti sem teu carinho,
Um medo horrível de morrer sozinho.
Medo mesmo que o medo me matasse
Mas deixei meu abrigo e avancei
Julgando ver a morte a cada passo
Ao ouvir o sibilar de um estilhaço
Parei
Pensei em ti
Continuei
Minha querida mãe se te dissesse
Que quando derrubou-me uma granada
Atirando-me na terra enlameada,
Foi por ti que chamei desesperado.
Por um momento deixei de ser soldado
E fui novamente uma criança
Sentindo na morte a esperança
De ainda adormecer no teu regaço.
Mamãe. Matou-me um estilhaço
Minha querida noiva, por que choras?
Relembras por certo as boas horas
Que passamos juntos. Só nós dois
Íamos casar. Lembra-te ? E depois
E depois uma casa retirada.
Cortinas nas janelas enfeitadas,
Tu me esperando
eu vindo do quartel
A nossa casa um pequenino céu,
Aberto a vinda de um herdeiro
Meu sonho, meu sonho derradeiro,
Foi de beijar-te antes de morrer.
Mas ao golpe frio da granada,
Beijei apenas a terra ensangüentada.
Mamãe, minha noiva, aqui se encerra
Uma história de sangue, esta é a guerra.
Não chorem. Tudo é terminado
Rápido como coisa de soldado
Mas mamãe
Se novamente a pobre humanidade
Mais uma vez em busca da verdade
Rufar seus tambores sobre a Terra
Anunciando mais sangue e outra guerra,
Se outro filho a Pátria te exigir,
Sem lágrimas mamãe, deixe-o ir
Embora te destrua o coração,
Ainda que te alquebre a agonia
Faça-me um favor mamãe,
Peça a esse irmão,
Para que seja também da INFANTARIA !