INÊS
O entardecer emoldura Belém do Grão-Pará
Meninos invadem o quintal do velho casarão
No abandono dos anos o velho pomar resiste
Oferecendo seus frutos a quem não o condena à total solidão.
Ali, Inês plantou flores trazidas do velho mundo
Cores, aromas, sabores, saudades de Portugal
Se lá perdera a inocência, ganhara o querer de um poeta
Talvez por isso regasse com seu pranto as flores daquele quintal
Por trás da janela entreaberta Inês contemplava a vida
O bonde levando donzelas impuras de coração
Talvez falassem de amantes, destes que a vida separa
E vivem pra sempre castiços à espera da morte como redenção
Do outro lado da à sombra de seus chapéus
Moços fitavam o sobrado, à espera de algum sinal
Que lhes dissessem que a moça, pura beleza dos anjos
Enfim esquecera o poeta e abriria a janela pra vida afinal
O tempo selou a janela e a moça ninguém mais viu
Se enlouquecera ou partira pr`aldeia além do mar
Se tivera o alívio da morte nem um mortal soube ao certo
Só sei que cantaram saudades de Inês, cuja sina foi ver a vida passar
A saudade é capaz de fazer agente desatinar meu sinhô
A saudade é atroz quando invade o coração com mal de amor
Ela às vezes se vai para sempre
Ou adormece num canto do peito
E desperta bem cedo pra fazer doer
Não existe elixir, patuá, pajelança ou doutor que dê jeito