Periferia, uma pá de histórias posso contar daqui
Vinte e seis anos da minha existência eu pude conferir
Eu consegui chegar até onde muitos falharam
Ainda pretendo ultrapassar o limite máximo
Sei o que é bom e o que é ruim pra mim
Aprendi, na malandragem vivi, soube entrar, soube sair
Eu vi que a vida é mais que uma doideira, é
Várias cadeiras, bebida a noite inteira
Eu encontrei minha paz bem longe disso tudo
Comecei a ver o mundo de outro jeito
Longe do pó que me controlava
Longe dos flagrantes que antes eu carregava
A vida é um jogo, sobreviver é uma vitória, é
Quem apostava no meu fim se deu mal
Agora eu to legal, inteiro, ligeiro AMX a CDN e meus parceiros
Eu faço o meu caminho, controlo a minha mente, é
Propagandas enganosas não me deixam mais doente
De pés no chão, cabeça feita, então
Meu passado errado me traz uma lição
Um cano na mão, só traz confusão
Farinha me deixa no osso, enriquecendo o outro, é
Ainda é tempo, meu irmão, mude sua vida também
Desperte um pouco do orgulho que o pobre tem
Eu to ligado, é cada um na sua
Um carro muito louco e grana no bolso é bom pra caramba, é
É o seu sonho, então, também tive esta visão
Sem liberdade, isso tudo se torna ilusão...
Periferia, onde quer que seja, é tudo igual, violência, homicídio é banal
Sangue escorre entre becos e vielas e minha inspiração, vem de dentro dela
Periferia, se chove falta energia
Se faz sol, não tem água nem pra beber
A expressão sofrida no rosto de cada um
Demonstra a violência que o governo nos faz
Acredito em paz ? Não sei...O que é paz ? Não sei... é
Resuma pra mim, assim, resuma pra mim...
Vou resumir...Vejo sangue, tiro, treta, tristeza
As lembranças dos amigos falecidos de infância
Soltava pipa, jogava futebol, polícia e ladrão era a nossa diversão
Hoje em dia não, que decepção, nada igual
Viagem na pedra, espaço sideral...
À noite é só correria vão pipar durante o dia
Deixaram pai e mãe pra trás e não voltaram mais
Se chegarem aos dezoito, é muita sorte ou milagre
Não é pra qualquer um, quem é daqui sabe
São poucos que se recuperam, na vida se acertam
Deixaram as drogas pra trás, a violência pra trás...Pedra e pó, não será meu erro
Não quero ser um presunto, com uma figona no peito
Olhe bem, veja bem, olhe bem pra você, me imagino no seu lugar
Como deve ser a agonia, o desespero de cachimbar
Esperando a vacilada de uma goma pra roubar...
Periferia, onde quer que seja, é tudo igual, violência, homicídio é banal...
Sua vida é sua vida, não lhe obrigo a nada
Me ouça se quiser, faça isso se quiser
Cada um com sua razão, não é...?
Pelo menos a minha, até agora, me manteve em pé...
Eu sou das ruas, eu sei como é que é, certo ?
Cidade Kemmel, Ferraz de Vasconcelos...
Gente pobre e humilhada pelo patrão, sem dó
Outros ganham a vida vendendo pedra e pó
A cadeia ta cheia, mas sempre cabe mais um
Rotulado, carimbado, ta ferrado...
Sua liberdade acaba assim : Mãos pro alto, vagabundo !
Dando flagrante em você, passando algemas nos punhos
Julgado por um júri fardado, dentro de um carro chamado de Camburão
Sem defesa, testemunha, sem droga nenhuma, é, apenas acusação
Condenado a estrear o revólver tomado de um otário
Que provavelmente, por eles foi apagado
Você ta ligado, já chegam armados
Empurrando todo mundo, arrombando os barracos
Enchem de medo nossos filhos e com razão
Devemos nos proteger da proteção, meu irmão
Olhe pro nosso mundo e onde estamos ?
O que nos sobrou ? E nossos filhos, como serão ?
Tomara que não sejam dependentes químicos
Que não procurem o sucesso na vida do crime
Um pequeno vacilo, um pequeno erro
Você vai subir mais cedo...!!
Periferia, onde quer que seja, é tudo igual, violência, homicídio é banal...