ORAÇÃO (LEMON TORQUATO)
Nascer de novo
Transpor com história, mas sem carga, ao devir
Parir-me, e pausar, em concepção, com desejo
Vontade e potência de agir
O ato encarnado do que sou no agora, outrora, lá e aqui
Não poupar na incessante busca do contorno e relevo de si
Pensar com as vísceras e com o todo, com o contorno,
Todavia, não perdendo no bojo o olhar fraterno ao outro
Nascer quando tiver que nascer
E morrer quando e todas as vezes que tiver de morrer
O saber morrer muitas vezes ao longo da vida.
Compreender-se ser.
Passar e passar e passar.
Nos caminhos, nos atritos, nos vincos
- afilando orgulho, alargando generosidade
Nessa estrada de passagem sem chegada
E dar-me tempo, dar-me ao erro.
Dar-me dádiva e não troca
Nesse mundo estúpido e rancoroso que monetariamente troca vida (e valor,
Comida, seguro, sexo, risada, amizade, beleza,
Morada, signo, conhecimento, gentileza,
Fé, escada, sentimento, trilho e toada).
Deixa, quiçá, a menina falar ?não tenho nada, tenho vida?
E aquele menino sussurrar ?mas eu não sou o único?
E destrambelhadorganizadamente viver.
Movimentar.
Curtir o universo do processo.
Transar alegrias.
E continuar sendo leve, sim, como folha ao vento, mas com sentido
Sabido do fluxo do ar vindo da própria boca em bico
Nem que sentido seja (apenas) acariciar a face de um(a)
Escolhido(a) das folhas
E na passagem, se Ele existe, vê-lo na natureza
E não braderjar-Lhe
Orar com os olhos mudos dessa natureza.
Com o tesão fértil das vicissitudes
E seguir. E nascer
E não mais reajo: cravo, de assalto, em todos os alvos
O tudo de mim
Hoje nasço
De novo
Coragem senhoras e senhores,
Nasçamos todos
De novo.