Com o vento a janela descobre e a cortina sobe - meu tempo chegou.
Rabisco com pressa antes que anoiteça e se apague o que a minha voz falou.
Desfaço o que escrevo e ensino meus dedos tocarem o que querem dizer.
Eu volto à calçada e procuro a palavra que eu joguei um dia sem ler.
Mas volto sem nem um ruído e me escondo sentido, fugindo dali.
Perdi cada menor vestígio desse esconderijo não sei mais sair.
E o vento que fica mais forte e meus olhos encobrem de tanto enxergar.
E eu lembro de todas as cores, cobrindo os dias até desbotar.
Achei uma fresta e o que me resta é no escuro tatear a cor.
E da lua que brilha aproveito a trilha que o rastro da sua luz deixou.
Mas dali não atravesso sou só um reflexo que o tempo pôde erguer.
Eu olho esse espelho de longe, já sem horizonte, sem nada a fazer...
Só por ela eu refaço as cores do telhado que o sol apagou.
Fechei meu caderno e quebrei com meus ditos já feitos que o vento parou.