Entrevista
(Sombrinha/Lucas Bueno)
Cambei pro meu lado analista
Eu dei pro espelho entrevista
Mirei meus próprios olhos e jurei:
Não vou ser mais artista
Marquei lá no Brás com lojista
Merquei parcelado e à vista
Camisas de viscose, malha e brim.
Eu quis ser varejista
Mas chegando ao terminal
Avistei "Chalaças"
Com os seus magros vira-latas no chão
Num frio do cão
Peguei as camisas de listra
Doei pros Chalaças na pista
Que me acenaram sujos e gentis
Com sorrisos grevistas
Ouvi uma trupe ativista
Trinar feito as irmãs Baptista
"Oh, abram alas que eu quero passar"
Desses integralistas
Então o coro engrossei
Junto aos pacifistas
"bêbado e a equilibrista" bisei
Cantei contra o "rei"
Voltei pra Bragança Paulista
Meu Deus, será que um exorcista
Me arranca em vão o desejo de viver
Perto dos pianistas?
Parti pro colégio Marista
Falei com um seminarista:
Se eu rezar até perder a fé
Viro capitalista?!
Ele pôs - se a sorrir
Disse: "A flor do Lácio
Que reluz lá no céu do Estácio
Virá pra enfim te curar
Chorei quando o padre nortista
Baixou com sermão minha crista
Dizendo ter meu caso solução
Rogue ao santo Niilista
Roguei para o Santo Niilista
Refiz no espelho a entrevista
E um barbudo sábio apareceu
Me chamou de artista
De repente delirei
Vi um psiquiatra
Um Jesus numa Cruz de Malta
Gritei: É o Agnus Sei