UM RIO (Paulim Sartori)
Um rio não se rende
Cegar-se é um assédio
Depois de cada dente
Sorrir, um sortilégio
E arde a arma quente
De todo privilégio
Um índio morto é pouco
Um leito seco, um porco
Na lama de Deus
As distrações baratas
Nos valem cada órgão
Verniz, terno e bravatas
Desaguam, nos afogam
Discórdias tão pacatas
Afins a toda norma
Bandido morto é pouco
Um livro lido é parco
No reino de Deus
Louvai o pecador
Antes prazer que dor
Sem culpa e sem temor
Antes que a providência
Melhor a diferença,
A dissonância e o suor
Que a dúvida seja o martelo
Que a febre não mate o que resta
Que não haja súdito ou servas
Que o veneno não toque o rastelo
Que o corpo não seja uma aresta
Libertem-se os bichos e as ervas