Farto de voar
Pouso as palavras no chão
Entro no mar
Sinto o sal de mão em mão
Tenho um barco na vida espetado
Só suspenso por fios dum lado
E do outro a cair
a cair
no arpão
no arpão
Levo a dormir
Sonhos que andei para trás
Ergo o porvir
Trago nos bolsos a paz
Tenho um corpo na morte espetado
Só suspenso por balas dum lado
E do outro a escapar
a escapar
de raspão
de raspão
Ponho a girar
Cantos que ninguém encerra
De par em par
Abro as janelas para terra
Tenho um quarto na fome espetado
Só suspenso por água dum lado
E do outro a cair
a cair
no alçapão
no alçapão
Farto de voar
Pouso as palavras no chão
Entro no mar
Sinto o sal de mão em mão