Os hinos são frutos perversos
crescendo no ramo dos versos
roubando o vento e a luz à folha
os hinos cegam quem os olha
Adoradores do sangue, sempre
os hinos bebem quem os cumpre
quantos sentidos tem a palavra
que o hino tomou por escrava
Beijou-me bem, matou-se a esmo
e o hino é sempre o mesmo
sempre o mesmo
beijou-se forte, matou-se feio
e o hino sempre de permeio
Choro por mim aos pés da forca
e o hino fala-me da dor que há
maior que a minha, melhor que a vida
e a morte vem despercebida
E se houver quem desta paz se farte
irmãos, irmãos, hinos à parte
lá vêm músicos, lá vêm letristas
divulgarão novas conquistas
Beijou-me bem, matou-se a esmo
e o hino é sempre o mesmo
sempre o mesmo
beijou-se forte, matou-se feio
e o hino sempre de permeio
Se cada igreja tem seu sino
se cada pátria tem seu hino
que fazem dentro das sepulturas
versos e sons e partituras?
Épicos de todo o mundo, uni-vos
fazei dos hinos pregões vivos
fazei dos hinos perdões aceites
em cama onde não durmas não te deites
Beijou-me bem, matou-se a esmo
e o hino é sempre o mesmo
sempre o mesmo
beijou-se forte, matou-se feio
e o hino sempre de permeio